“Queria pedir desculpas a Elis por tudo que nós, homens, fizemos a ela.” 

O “CNN Nosso Mundo” deste sábado, 21  de maio (23h45), é uma edição especial com o produtor musical João Marcello Bôscoli, filho mais velho da estrela da MPB, Elis Regina, com o produtor e compositor Ronaldo Bôscoli. À Glória Vanique, Juliana Lopes, Rita Wu e Lia Bock, ele fala sobre a mãe e a música. “Mãe e Música são duas palavras que sempre escrevo com letra maiúscula”, ressalta. 

No livro que escreveu, “Elis e eu: 11 anos, 6 meses e 19 dias com minha mãe”, o homem de 50 anos relembra os momentos de um garoto ao lado da mulher posicionada e forte, que desafiava as convenções. “Mulher não podia fumar, era feio. Às vezes, minha mãe não estava fumando. Mas, abria a câmera, ela pegava um cigarro. Aquilo ali era uma demonstração de autonomia”, lembra João Marcello.  Ele também fala dos desafios que Elis enfrentou em tempos tão sombrios para o Brasil, no qual a censura de obras artísticas era uma coisa comum. “Até o final da vida, Elis nunca lançou um disco fora de uma ditadura militar. Nunca não teve censura. Ela nunca conheceu a abertura política”, lamenta. 

  Depois que perdeu a mãe, João Marcello encontrou forças na música e nos amigos. “A música foi meu anestésico depois da morte da minha mãe. Eu acordava de manhã e já colocava o fone de ouvido. E meus amigos viraram a minha família”, conta.  Pelo que a vida tem lhe oferecido desde então, ele demonstra reconhecimento. “Recebi sempre um olhar de acolhimento. Nunca recebi nada ruim, só muito carinho, amor e compreensão”, diz.  

Em março deste ano, 40 anos após a morte de Elis Regina, o último álbum da cantora, “Falso Brilhante”, foi relançado em versão remasterizada, tendo João Marcello como principal responsável pelo trabalho.  “Na música, eu reencontro o aconchego da minha mãe. Durante as gestações dos três filhos, minha mãe fez shows até os 8 meses. Então a minha ligação com a música e com a minha mãe, eu não sei onde uma coisa começa e outra termina”, esclarece.  

Ao “CNN Nosso Mundo”, o produtor musical também fala sobre streaming,  democratização da música e as mudanças do mercado. “Em um tablet talvez tenha mais tecnologia do que os Beatles conheceram em toda a sua carreira”, surpreende-se o  ex-sócio fundador da gravadora Trama, que lançou nomes como Otto, Max de Castro, Luciana Mello e Rappin Hood.   Segundo ele, a música se manifesta através do artista e “diante de um grande talento, as pessoas param pra ver. Se colocasse a Elis Regina tocando na avenida Paulista hoje, parariam para ver”. 

“Passei uma vida inteira buscando o abraço da minha mãe. 

Depois que meus filhos nasceram, encontrei esse abraço.”

É de uma mulher caseira e mãe dedicada que o filho também lembra com amor. “A Elis, a figura pública, é uma parte da minha mãe. Ela tirava muita energia da vida em casa. Ela gostava de levar a gente pra escola, encadernar os livros. E ela não fazia isso para postar, era a essência dela”, afirma. Para a mulher incompreendida, vítima de uma época ainda mais repressora que a atual, João Marcello pede perdão:  “Queria pedir desculpas a Elis por tudo que nós homens fizemos a ela”. E, depois de conviver por décadas com o vazio e a saudade, ele afirma que encontrou nos filhos o conforto que precisava: “Passei uma vida inteira buscando o abraço da minha mãe. Depois que meus filhos nasceram, encontrei esse abraço.” 

 O “CNN Nosso Mundo” vai ao ar sábado às 23h45.

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