UM RAIO X DE UM GOLPISTA

março 02, 2022

Créditos: Netflix Brasil (https://www.instagram.com/p/CZ4eINXBD1J/?utm_medium=copy_link)

A série “Inventando Anna” e o documentário “O golpista do Tinder”, que são baseados em fatos, provocam questionamentos sobre o perfil das pessoas que passam suas vidas criando estratégias para lucrar com seus golpes. Duas questões costumam vir a tona diante destas histórias. A primeira é se é possível parar um golpista, alertando-o que a sua atitude é ilegal? E a segunda é como blindar as pessoas para se protegerem de se tornarem vítimas em casos como estes? 

Para responder estas questões, primeiro é preciso expor uma base da formação da psique humana, mas não apresentarei uma análise das vidas de Anna e do Simon, visto que para isto seria necessário conhecer as suas histórias, e preferencialmente relatadas pelos mesmos, como acontece nas seções de terapia. Entretanto podemos afirmar que tanto um como o outro tem, pelo menos, traços de psicopatia. 

Normalmente quando falamos em psicopatas, vem a lembrança serial killers, abusadores de crianças e mulheres, mas não é exclusividade deste tipo de perfil. Os traços mais comuns de um psicopata são: Ausência de emoções, manipulador, estrategista, percepção aguçada, altamente focado, ausência de culpa, encantamento, etc. 

Para a psicanálise a formação da psique de um indivíduo começa durante a gestação do mesmo e se desenvolve até a sua fase de adolescência, sendo a fase da infância a mais importante, onde pode haver os desvios que poderão gerar os sintomas ou distúrbios psíquicos em sua vida. Nesta formação existem três princípios fundamentais que conforme vivenciados ou mesmo a falta destes, proporcionarão uma formação mais saudável ou não. Estes três princípios que me refiro são: o princípio do prazer, o princípio da realidade e o princípio da lei. 

No inicio da vida de um bebê, ainda no ventre da mãe, ele apenas reconhece o princípio do prazer. É como se os outros não existissem, e isso tem sua importância no desenvolvimento inicial. O princípio do prazer representa o desejo instintivo de satisfação. É devido a este princípio que um bebê quando sente o desconforto da fome, procura um seio para se alimentar e assim desfrutar do prazer da saciedade. A criança chora pelo desconforto de uma fralda cheia, na expectativa de que algo aconteça e o desconforto desapareça, sentido alívio. Nesta fase o bebê se reconhece como alguém onipotente, que controla tudo, que tem o poder para se satisfazer em qualquer situação. Outra característica da percepção da criança é que ela é o centro de tudo, e tudo parte dela, ela cria e destrói o que quiser. Quando está com fome e o seio da mãe surge é para ela resultado de sua criação. O poder do seu desejo de satisfação criou este seio e após se satisfazer ela o “destrói”, isto é ele desaparece. 

Com o passar dos anos, esta criança começa a perceber que existe uma realidade a sua volta. Com a percepção da realidade cai por terra o seu sentimento de onipotência, e isto contrapõe o princípio do prazer. Este princípio surge, por exemplo, quando o neném está com fome e o seio que a alimenta demora a surgir. Este tempo de espera faz com que o bebê comece a perceber que não é ele que está criando este seio, mas vem de outra pessoa. Uma das funções que este princípio proporciona é a adaptação do indivíduo ao comportamento civilizado. 

Em sintonia com o princípio da realidade e como forma de estruturar melhor uma psique saudável, surge para a criança o princípio da lei, que é representado pelas regras, leis para se viver em sociedade.  

O equilíbrio entre estes três princípios é que dá a condição de uma vida dita saudável do ponto de vista psíquico. Se a força do princípio do prazer é bem acima dos outros dois princípios, veremos como resultado indivíduos perversos, com os traços de psicopatia. A satisfação dos desejos dominam a personalidade do indivíduo e este tende a realizar tudo o que deseja. Se por outro lado o princípio da lei se sobressai, teremos como consequência indivíduos neuróticos.  

Podemos perceber então que uma pessoa com traços de psicopatia tende a criar uma fantasia, negando a realidade e desenvolve a sua vida na realização de suas fantasias. A lei, os sentimentos das outras pessoas, não tem peso para ela. Assim podemos responder a primeira questão: se é possível parar um golpista, alertando-o que a sua atitude é ilegal? Dificilmente teria sucesso qualquer intervenção, pois para estes indivíduos a sua satisfação, está acima de qualquer regra. Não há sentimento de culpa. 
créditos: NETFLIX BRASIL (https://www.instagram.com/p/CZuCMPDs2sp/?utm_medium=copy_link)


Quanto a segunda questão, como se blindar de se tornar vítima destes tipos de golpes, é importante lembrar que o perfil de golpistas mostra que são muito focados nos seus alvos e altamente estrategistas. Eles estudam suas possíveis vítimas para conhecer cada detalhe e principalmente seus pontos fracos. Eles encantam seu alvo e normalmente quando alguém se encanta com outra pessoa, ela tende a cegar seus olhos, a não acreditar em nada que contrarie o que está vendo. Assim a primeira dica para se blindar é: jamais deixe de considerar o que dizem aqueles que já convivem com você por algum tempo. 
Outra característica destes golpes, é o isolamento social. Este isolamento não acontece somente isolando a vítima de seus relacionamentos, mas quase sempre o golpista não se envolve com quem convive com a vítima. A dica então é: possibilite que outras pessoas do seu meio social estejam envolvidas nesta nova relação, isto possibilitará outro tipo de olhar e percepção da realidade. 

Já atendi vários casos de pessoas que vieram a clínica após ser vítima de um golpista. A título de reforçar as dicas acima, quero relatar um destes casos: Este é um caso bem emblemático de uma mulher com cerca de 40 anos que chegou na clínica emocionalmente arrebentada. Medo, vergonha, culpa e vários outros sentimentos a destruíam. Ela iniciou um relacionamento com um homem e conviveram por cerca de três anos. Após este período, quando ela se deu conta, havia perdido todos os seus bens. Assinou procurações e escrituras e com o fim da união ficou sem nada. Seus filhos alertaram de uma suspeita desde o início, mas ela estava encantada e não dava valor ao que ouvia. Duas características marcantes quero destacar neste caso: -com o passar dos anos ela foi sendo isolada de sua família; -durante todo o período do relacionamento ela jamais teve contato com pessoas da família ou círculo de amizades anteriores dele.


Psicanalista e Hipnólogo Reinaldo Nascimento


CLÍNICA DE TERAPIA PSICANALÍTICA E HIPNOANÁLISE  

REINALDO NASCIMENTO 

Psicanalista pela Sociedade Psicanalítica do Paraná 

SSP-PR: 0787 

Whatsapp 44 99156-2779 

Ansiedade, depressão, dores crônicas, fibromialgia, pânico, fobia, vícios, transtorno alimentares

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