Arthur Bispo do Rosario e Judith Scott:marginalidade e excepcionalidade

abril 05, 2022

Editora Estação Liberdade publica estudo de Solange de Oliveira em dois volumes, cada um sobre um artista

 


À revelia do papel que supostamente lhes é atribuído socialmente, Arthur Bispo do Rosario e Judith Ann Scott mantêm a arte por um fio — costuram sua epopeia em linhas e cabos, sob seus próprios termos, ignorando o dado e o instituído. A publicação em dois volumes de Arte por um fio é um elogio à liberdade e um convite à alteridade.

Título: Arte por um fio: Arthur Bispo do Rosario

Autora: Solange de Oliveira

ISBN: 978-65-86068-52-8

Formato: 14 x 21 cm / 384 páginas

Lançamento: 28/04/2022

Preço: R$77,00

 

Volume 1: Arthur Bispo do Rosario

Em uma abordagem à luz dos preceitos de Jean Dubuffe sobre art brutArte por um fio 1 acompanha o percurso existencial de Arthur Bispo do Rosario (1909 – 1989) empenhado em um projeto de vida a partir de suas memórias e de sua condição de asilo em uma instituição manicomial.


O artista professa uma prece bordada em memória da sua Japaratuba natal, do catolicismo rústico, das tradições artesanais e folguedos populares sergipanos, de um Brasil abolicionista. A expressão do acervo desperta reflexões sobre questões político-sociais, humanitárias e estéticas.


Diante da epopeia em fios azuis, somos confrontados com o Outro: quem é esse que, estranho, ousa me fazer olhar minha própria condição? O tratado de Arthur Bispo do Rosario nos faz passear por um Sergipe ainda em germe e nos abandona nos braços de uma paradoxal alteridade, entre o fascínio e a fobia, a admiração e o constrangimento.

Trechos


"A partir do estudo da obra, seguindo os recortes apresentados, considero que Arthur Bispo do Rosario perverte sua posição no quadro social, procurando transgredi-la — e das mais nobres maneiras possíveis: pela religião, pelo esporte e pela arte, postumamente. Conquistou o poder que lhe foi subtraído à revelia. Buscou elevar também aqueles que, como ele, foram escolhidos para a ‘Travessia da Passagem’, como dizia. Ele, o condutor, junto a todos aqueles que seriam merecedores da salvação." (p. 37)

 

"Em geral, o cidadão comum ficava a meio caminho das inovações e modernidades. Não obstante o período seja anterior à ida de Arthur Bispo do Rosario para o Rio de Janeiro, podemos considerar que os efeitos históricos persistiram por um bom tempo. Temos, portanto, um cidadão afrodescendente que se mantém fiel à memória de sua localidade natal, com suas tradições religiosas, em meio à velocidade dos ritos da capital. Vale lembrar que indivíduos despreparados e em crise com a nova ordem das coisas estavam ainda mais suscetíveis e expostos a esse meio inóspito." (p. 255)

Título: Arte por um fio: Judith Ann Scott

Autora: Solange de Oliveira

ISBN: 978-65-86068-58-0

Formato: 14 x 21 cm / 280 páginas

Lançamento: 28/04/2022

Preço: R$63,00 

 

Volume 2: Judith Ann Scott

A partir de uma abordagem filosófica vida em que Henri Bergson se destaca, Arte por um fio 2 acompanha o percurso e a forma como se constitui o processo criativo da artista estadunidense Judith Scott (1943 – 2005), sobretudo o modo original da constituição de sua obra — uma verdadeira poesia em fios.


A artista tem um acervo expressivo no cenário internacional da Arte Contemporânea e no campo da outsider art.


Judith Scott nasceu trissômica e surda; passou grande parte de sua vida em instituições, sem que fosse cuidada e alfabetizada, nem mesmo na língua de sinais. É, portanto, inábil para a linguagem verbal, mas especialmente atraída por imagens. A criadora é autodidata, e todo o desenvolvimento de seu trabalho prioriza o processo ao produto — “o fiar é devir”.


Expressões artísticas peculiares acabam sufocadas pelo conhecimento excessivamente teórico; assim, o livro apresenta uma reflexão que coloca em relevo a índole intuitiva e temporal na feitura de sua obra.

Trechos

“Judith Scott não esboça hesitações ou dúvidas no ateliê, o que contrasta radicalmente com a atitude na lida cotidiana; no mundo real, é incapaz de cuidados pessoais e até mesmo de suprir suas necessidades básicas, mas, nas dependências do Creative Growth Center, parece se sentir à vontade para conseguir o que deseja; demonstra autossuficiência, competência e independência. São estarrecedores o contraste e o desempenho para as atividades cotidianas em relação àquelas do trabalho com os fios. O resultado do trabalho é, todavia, imprevisível. Judith Scott é dragada para o interior do processo, embarca em consistentes princípios estéticos e técnicos empregados ocasionalmente.” (p. 76)

 

“A criança, espontânea, ansiosa pelo conhecimento do mundo, está sempre aberta à novidade sem condições prévias, não se dobra a regras, porquanto é mais próxima da natureza que na idade adulta e é, concomitantemente, pesquisadora e inventora. De maneira semelhante à experiência infantil, o fazer de Judith Scott apresenta respostas espontâneas nessa mesma medida, ela é, inclusive, excepcionalmente hábil no artístico e inábil para o cuidar de si cotidiano, como uma criança.” (p. 152)


A autora

 

Solange de Oliveira, paulistana, é graduada em artes visuais e em filosofia e é doutora em psicologia social. Foi docente no Departamento de Artes Visuais e Design da Universidade Federal de Sergipe e atuou entre 2018 e 2019 como pesquisadora junto ao Departamento de Filosofia da Universidade de São Paulo, onde desenvolveu sua investigação em estética e filosofia contemporânea, se aprofundando no campo de estudos de imagem com abordagem fenomenológica. Seu trabalho circunscreve a intuição, a memória e a condição existencial relacionando-os à forma como se constitui a produção de criadores iletrados artisticamente, que se expressam prioritariamente pela imagem à linguagem textual e verbal. Tem transitado nos últimos anos, portanto, nos campos da Arte Ínsita e da Outsider Art.



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