Bailarina e ativista veio ao Brasil especialmente para esta homenagem

A escola de samba Acadêmicos do Salgueiro chegou neste carnaval com o enredo “Resistência” - uma homenagem e reforço histórico de grandes personalidades negras do Brasil, entre eles Mercedes Baptista: a primeira negra a integrar o corpo de baile do Theatro Municipal do Rio de Janeiro e que completaria 100 anos em 2021. Ao longo da apresentação, Mercedes se transformou em Ingrid Silva, surpresa da escola para o carnaval deste ano. Após essa transição alegórica de personagem, ela foi elevada e uma altura de 3 metros e reverenciada por esses heróis negros enquanto dançou na ponta com sua sapatilha cor de pele na Marquês de Sapucaí. Os heróis do passado reverenciam uma personalidade do presente que inspira e mostra possibilidades para uma nova geração.

“Eu tenho um enorme prazer de retornar ao Brasil para dançar no maior espetáculo do mundo a céu aberto, que é o Carnaval. Há 14 anos morando em Nova York, poder estar aqui é um privilégio, estou muito emocionada e muito feliz por estar na comissão de frente da Salgueiro. O convite veio no momento certo. Estou muito encantada”, comenta Ingrid. “Estou muito feliz pela oportunidade que o Patrick - que é o único coreógrafo negro de comissão de frente do grupo especial. Foi inesquecível”, complementa.

Desde o convite, em outubro de 2021, até o desfile foram seis meses de preparação e expectativa. De Nova York, Ingrid acompanhou por vídeos as coreografias e, em fevereiro deste ano, ensaiou com o grupo no Rio de Janeiro em ensaios mantidos em total sigilo para manter a surpresa.

“Trabalhar com a Ingrid tem sido uma coisa de outro mundo. A Ingrid entrou, perfurou meu sonho. É muito mágico isso que aconteceu. Ela entrou e falou 'esse personagem sou eu, esse personagem é meu e vim aqui para concretizá-lo'. Quando chega, ela é esse poço de humildade, dedicação, carinho e luz. Então pra gente, para os bailarinos, é um sonho diário ensaiar do lado da Ingrid com ela pedindo sempre mais”, comenta o coreógrafo Patrick Carvalho. “É certo de que meu sonho não estava errado, isso é muito bom. E é assim que entramos na avenida. Lutando pela dança preta. Lutando pelo povo preto. Lutando por esse lugar que é nosso. É um diamante chamado Ingrid Silva”, diz ele.

Para além de todo o histórico e representatividade dessa participação especial da bailarina, vale pontuar que os elementos dos carros alegóricos, especificamente o carro sobre o Theatro Municipal, que chama a atenção para esse tema das bailarinas negras, traz a sapatilha de ponta no tom negro, legado amplificado pela mensagem de Ingrid - a brasileira foi noticia globalmente após se tornar a primeira bailarina a receber sapatilhas no tom de sua pele. Hoje, a sapatilha que costumava pintar com base de maquiagem está exposta no Museu Nacional de História e Cultura Afro-Americana Smithsonian, nos Estados Unidos.

“Desde o nosso primeiro contato com a Ingrid sentimos que estávamos diante de uma pessoa com DNA salgueirense, que aceita desafios e se dedica a vencer. A própria história dela já diz isso e esperamos que ela traga ainda mais força e sucesso para este trabalho que foi idealizado e conduzido pelo nosso coreógrafo Patrick Carvalho”, diz André Vaz, Presidente da escola de samba.