Liniker no Podpah

junho 30, 2022


Crédito foto: Gabriel Carvalho/Divulgação Podpah



A cantora e compositora Liniker foi a convidada do episódio 426 do Podpah, realizado na noite desta terça-feira (28), Dia Mundial do Orgulho LGBTQIA+. Na entrevista, Liniker, uma dos maiores vozes da música brasileira nos últimos anos, contou sobre o despertar para a carreira de cantora, o sonho de ser atriz, a amizade com Linn da Quebrada, a indicação ao Grammy e de uma violência sofrida ao ter um abuso divulgado por uma jornalista, entre outros assuntos.


Confira os principais trechos da entrevista:


LINIKER RELEMBRA DIFICULDADES QUE PASSOU ANTES DO SUCESSO - YouTube

“Meu maior sonho era sobreviver. Tinha muito medo de não conseguir, de ter que voltar. Sofri muito e sabia que se eu contasse para minha mãe ela ia me buscar e eu teria voltado para Araraquara. Só que meu sonho era muito maior [que as dificuldades]. Além do meu sonho era sobreviver, era também me formar como atriz. Sempre quis fazer cinema, sempre quis ser profissional de teatro, só que foi muito lindo como a música foi minha parceira. Tanto é que cheguei em Santo André com um violão. Muitas vezes na minha formação, a gente queria fazer uma cena com música e eu estava sempre propondo alguma coisa. Aí, de repente, para sobreviver, eu decidi ‘passar o chapéu’ em São Paulo. Tinha um bar na praça Roosevelt que eu tocava de domingo passando o chapéu com outro cara, o Jeferson, que era da minha turma. Já tocava as minhas músicas e fazendo outras versões e era o meu dinheiro da semana às vezes. Em um dia bom eu tirava 20 reais. Acho que o máximo foi 40 [reais~]. E eu dividia sempre o o Jeferson, o que é justo é justo. E isso não é 2002, foi em 2014, 2015”.


ENERGIAS, INTUIÇÃO, E FÉ - YouTube

“Eu sou muito conectada nas energias, uma pessoa onde a espiritualidade e tudo que envolve minha energia, meu contato, é um lugar de cuidado”.


ORIGENS MUSICAIS DE LINIKER - YouTube

“Eu queria ser alguma coisa relacionada à arte. Minha família é de sambistas, pagode. Minha mãe sempre teve uma relação com a dança. Em Araraquara tem um baile chamado “Baile do Carmo”, criado de pretos para pretos. E a minha família envolvida nisso a vida inteira. Eu cresci nesse lugar de contexto cultural de chegar nos lugares e tomar conta, na música, na dança, na feijoada. Minha mãe me criou sozinha, então muitas vezes eu ficava com alguém ou minha mãe tinha que me levar. E nessas vezes que minha mãe me levava eu ficava curiosa, era sempre muito curiosa, e acho que isso me possibilitou ser mais à frente sobre a arte principalmente e sobre me ver artista”.


“Eu demorei para assumir [que eu era cantora]. Eu tinha vergonha. Achava que, se eu começasse a cantar, eu ia ser exigida a cantar nos churrascos da minha família. Por mais para fora que eu sempre fui, também sempre fui muito tímida. E na minha família sempre teve essa coisa de “vai, canta, mostra!”. Eu tinha medo nesse lugar. Mas aí essa coisa foi se dissipando. Teve esse momento de me apresentar para a minha família. No meu aniversário de oito anos que o tema era Tarzan inclusive, e aí tem uma foto minha dançando ‘É o Tchan no Egito’ e uma roda todo mundo me olhando”.


“Eu fui uma criança que cresci no interior e tive essa referência no Baile do Carmo. Araraquara é uma cidade onde se escuta diversos gêneros musicais e eu ali especificamente eu fui englobada dentro do universo da minha cultura preta. Foi no Baile do Carmo que eu fui saber o que era charme, rap, R&B, soul, o que era Djavan. Djavan é um ritmo musical, então acho que isso me deu um pouco de noção até para o que eu faço hoje. É muito baseado no que a minha família me passou”.


LINIKER E AMIZADE COM LINA PEREIRA - YouTube

“Quando eu cheguei em Santo André sozinha com 18 anos, 150 reais na bolsa, um violão nas costas e uma mala de roupas. Cheguei no dia 2 de fevereiro de 2014. Eu ia passar só duas semanas porque depois eu ia para o processo seletivo da escola [de teatro]. Eu vim, passei, liguei para a minha mãe e falei que ia passar o primeiro mês lá e abril eu voltava para Araraquara na Páscoa e vemos o que fazer, mas eu vou morar aqui. Lembro que minha mãe ficou muito feliz e ao mesmo tempo muito preocupada”.


“Nessa época de Santo André quem eu encontro? Lina! Moramos juntas porque Lina era do terceiro ano dessa escola, e eu vou morar na casa da Lina. Tinha um menino de Araraquara chamado Igor que já morava em Santo André e me disse que morava numa casa e disse que eu podia ficar lá. Aí fui, cheguei, Lina não estava lá, acho que estava no Rio. Aí conheci as pessoas, todo mundo me ajudou para o teste, a ensaiar os textos, todo mundo era da escola de teatro, era ator ou atriz e estavam ali tentando sobreviver. Aí a Lina chega no final dessa semana, eu abro a porta para ela e falo ‘Oi, eu sou a Liniker’. Foi nosso primeiro encontro. No começo ela demorou para entender que me amava. Eu a amei de cara porque eu sabia dela antes dela chegar [na casa]. O povo já me falava dela, explicava quem era ela. Tanto que quando eu vou abrir a porta para ela eu já abro com intimidade”.


“A gente morava em nove pessoas e ela [Lina] tinha quarto sozinha. Como ela já morava lá há dois anos, as pessoas foram saindo e ela ficou com um quarto só para ela. Eu cheguei e fui dividir quarto com ela. Às vezes ela me deixava dormir no quarto e às vezes eu dormia na sala [risos]. Moramos juntas um ano e meio”.


LIDANDO COM O DESRESPEITO DA MÍDIA- YouTube

“Além da responsa do som, e acho que estou conseguindo reverberar só agora depois de tanto tempo, [o sucesso] foi um dos momentos mais violentos da minha vida, onde a minha transição foi toda assistida pela mídia. E as pessoas eram muito violentas, invasivas. Nunca era sobre meu trabalho que era dito, era sempre sobre a minha identidade. E por muito tempo a gente tentava falar do disco, era muito difícil falar da minha música, era muito difícil falar dos discos que a gente estava fazendo. E a mídia, os jornais, todo mundo falando muito desse lugar do gênero. O que também foi muito importante porque foi um momento do Brasil outros artistas começaram a surgir com muita força...Pablo [Vittar], Lina, As Bahias e a Cozinha Mineira, muita gente. Foi importante para mim, para entender que eu não estava só, mas ao mesmo tempo era muito difícil porque eu me senti muito violentada. E eu só fui entender essa violência dois anos atrás, em terapia, falando sobre isso, entendendo o quanto isso foi violento.”


“Eu vivia driblando. Eu falava um pouco [sobre a transição] e depois eu queria falar sobre o meu disco. Aí quando eu ia ler a matéria, não era sobre o meu disco, era sobre minha identidade. E isso é importante porque as pessoas começam a entender que é possível ser de outro jeito, mas eu queria falar da minha música, do meu trabalho. E até hoje eu sigo querendo falar do meu trabalho, do que eu tenho transformado na minha vida artisticamente na minha vida e na vida de outras pessoas. Mas esse lugar reducionista, onde a gente só cabe em um mês, em uma data, em uma pauta, é um lugar muito restrito e mínimo, quando a gente pode falar de muitas coisas. O tempo inteiro nesses seis anos de carreira foi cansativo porque eu precisava falar do meu trabalho e a mídia queria falar da minha identidade”.


“Até que teve uma entrevista que eu dei e foi muito violenta porque nessa entrevista a jornalista havia falado sobre um abuso que eu sofri e que a gente havia falado em OFF antes, e eu não havia falado nem para a minha família desse abuso. E aí eu falei: ‘não dou mais entrevista, eu preciso me fechar’. Estava no momento do “MeToo”, a gente dividiu coisas pessoais ali antes da entrevista, eu só vi que ela colocou na matéria depois que a revista foi impressa. Então além de tudo na minha vida ser nesse lugar do gênero, da identidade, teve essa grande violência que foi falar de uma coisa que é importante ser dita, mas eu não estava preparada ainda para dizer aquilo, por exemplo, para a minha mãe. Eu não queria falar daquilo publicamente, como tudo na minha vida estava exacerbado e público. Isso é muito foda, foi me tornando uma pessoa mais reservada e mais estratégica também, sobre cuidar desse lugar que é tão íntimo e que se publiciza para ser a pauta, o boom, a bomba, o chamariz, e querer falar do meu trabalho e de coisas que as pessoas realmente ouçam e me respeitem por isso”.


Outros assuntos abordados durante a entrevista:

INDICAÇÃO AO GRAMMY DE LINIKER - YouTube

VOCÊ JÁ FEZ TERAPIA - YouTube

LINIKER NEGOU CANTAR NA COPA DO MUNDO 😱 - YouTube

O LADO RUIM DA FAMA - YouTube





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