Site ‘Festas Brasileiras’ retrata e valoriza as tradições, personagens, histórias e manifestações da cultura popular
agosto 12, 2022
A devoção à Nossa Senhora Aparecida, a Padroeira do Brasil, na região Sudeste.
Foto: Andrea Goldschmidt
Nova plataforma reúne curiosidades, fotografias e registros audiovisuais produzidos nos últimos oito anos pela fotógrafa e artista multimídia paulista Andrea Goldschmidt
A rivalidade entre os bois Garantido e Caprichoso, com um espetáculo no meio da Floresta Amazônica, na tradicional e grandiosa festa do Boi Bumbá (Norte). O colorido das cabeleiras dos caboclos de lança, descendentes de escravos, os guerreiros de Ogum do Maracatu de Baque Solto (Nordeste). A batalha entre mouros e cristãos nas Cavalhadas (Centro-Oeste), a devoção à Nossa Senhora Aparecida, a Padroeira do Brasil (Sudeste) e o sentimento de orgulho pelos hábitos e costumes do povo gaúcho na Semana Farroupilha (Sul).
Esses são alguns exemplos da enorme diversidade de manifestações, cores, danças, músicas, gastronomia, fé, tradições e religiosidade que compõem nosso rico patrimônio cultural imaterial e podem ser vivenciados através do olhar sensível da fotógrafa e artista multimídia paulista Andrea Goldschmidt, que nos últimos oito anos registrou 37 festas populares brasileiras, em 13 estados.
O site (www.festasbrasileiras.com.br), que nasceu como blog em 2015, está em constante atualização e acaba de ser totalmente reformulado. A nova plataforma do projeto - que valoriza os saberes regionais e as pessoas que fazem tudo isso acontecer - reúne fotos, vídeos, músicas e comidas típicas, entrevistas, informações e curiosidades preciosas da cultura popular brasileira.
O interesse da artista pelo tema nasceu de seu entusiasmo pela diversidade, pelo poder do coletivo e pelo orgulho que sente de ser brasileira. Neta de alemães e criada dentro de uma comunidade formada por muitos estrangeiros, ela compreendeu, desde muito cedo, as belezas da diversidade natural e cultural do país onde nasceu.
“As festas são acontecimentos profundos e cheios de beleza, que só se tornam possíveis a partir da força dos grupos de pessoas que trabalham juntas, por objetivos comuns, produzindo e transmitindo conhecimento na forma de poesias, músicas, comidas, roupas e danças”, diz Andrea, cujo maior desejo atualmente é compartilhar tudo o que viu e viveu nos últimos anos com muitos outros brasileiros.
Antes da fotografia, Andrea trabalhou, por 15 anos, como consultora especialista em sustentabilidade, criando projetos que só podem existir se valorizados e realizados coletivamente, e dando aulas em universidades. Já se manifestava aí a sua vocação para reunir e transmitir informações para dar visibilidade a temas relevantes como costumes, crenças e valores de um povo.
Em seus trabalhos artísticos, ela busca sempre a poesia e o colorido que vêm da natureza e dos fazeres tradicionais. De sua personalidade otimista, vem a opção por dar destaque ao singelo e ao belo e passar ao largo das visões estereotipadas e superficiais sobre o Brasil.
As festas retratadas são traduzidas pelo olhar detalhista de Andrea, que captura com delicadeza particularidades de objetos, figurinos, gestos e carinhos. “Tento encontrar nos eventos as pequenas demonstrações de afeto e beleza. A conexão das pessoas com os símbolos de cada festa é emocionante, por exemplo, como Iemanjá é representada nos altares: sereia, negra, branca, boneca, índia, ou seja, uma divindade com muitas facetas”, diz Andrea, que fotografou durante seis anos o Xirê de Iemanjá, em Praia Grande (SP).
Da fotografia aos vídeos
Neste percurso incansável de conhecer as festas populares, a artista fez uma transição da fotografia para registros audiovisuais, um desejo que ficou latente ao conviver com os festeiros e turistas e querer entender e compartilhar as histórias por trás de cada imagem, qual a motivação deles para tanta dedicação.
“O projeto nasceu com a fotografia, mas, aos poucos, foi se transformando numa exposição multimídia: a riqueza do site está justamente na diversidade de conteúdos disponíveis para cada uma das festas registradas. Quem visitar a página vai conhecer várias facetas daquela celebração e, quem já conhece o evento, vai ver com outro olhar, por exemplo, se já comeu o tradicional ‘afogado’ da Festa do Divino, em São Luiz do Paraitinga (SP), vai aprender como é a preparação”, explica Andrea.
Durante a pandemia, quando as festas não estavam acontecendo, Andrea gravou depoimentos dos participantes da Folia de Reis, em Santo Antônio da Alegria (SP). O Carnaval de São Paulo também foi escolhido durante dois anos seguidos para captar vídeos dos organizadores, compositores e passistas. Seguindo o caminho do webdocumentário, recentemente foi a vez do Tooro Nagashi, em Mogi das Cruzes (SP), e da Romaria de Finados, que reúne em Juazeiro do Norte, no Ceará, centenas de milhares de afilhados do Padrinho Cícero, como é carinhosamente chamado pelos devotos o ex-padre Cícero Romão Batista.
“Os romeiros me contavam quantas vezes já tinham ido, normalmente umas 28, 30 vezes. Também falavam sobre os ‘sacrifícios’ para chegar a Juazeiro. É interessante que quanto maior for a distância até a cidade e mais desconfortável for a viagem, mais valor a romaria tem para eles. Eu ficava curiosa para entender mais sobre essa relação com o padre e, na minha terceira romaria, comecei a gravar os depoimentos. Foi muito legal encontrar pessoas de todas as idades e classes sociais, com promessas diversas”, recorda Andrea.
Roteiro
A fotógrafa conta que tudo começa com o planejamento de uma viagem comum, mas envolve um trabalho investigativo, porque muitas vezes é difícil encontrar informações e a programação das festas. “Sempre chego na cidade com antecedência para conhecer os festeiros, o lugar, e conto com a boa vontade das pessoas”, diz Andrea, que já tem uma lista de eventos a serem registrados. “A Dança dos Parafusos, em Sergipe, o Marabaixo, no Amapá e, neste ano ainda, o Festival de Cururu e Siriri, no Mato Grosso”, completa.
Para quem sonha em viajar para algum desses 37 lugares, o site é uma visita obrigatória que vai ajudar no planejamento do roteiro de viagem. Para quem quer conhecer as festas e tradições da cultura popular, espalhada por esse imenso país, sem sair de casa, é uma experiência única, que une arte, cultura, fotografia e tecnologia.
“Para os viajantes conscientes, curtir nossas festas regionais é uma maneira de aumentar a autoestima das comunidades que organizam essas celebrações, incentivar o turismo doméstico, reforçar a importância das nossas raízes e reafirmar a consciência da nossa identidade enquanto povo”, diz Daniel Nunes, jornalista, mestre em comunicação e colunista de turismo responsável, sobre o novo site.
A nova plataforma
No site (www.festasbrasileiras.com.br), as festas estão organizadas de forma versátil para o visitante encontrar tudo em um só lugar. A nova interface torna possível procurar a festa popular de interesse pelo nome, por região, ou por época do ano em que ela acontece.
Nas páginas dedicadas a cada festa, é possível viajar dentro do evento através do “Sinta-se Lá”, textos curtos com as narrações descritivas da artista que estimulam a imaginação de cenas marcantes de cada festa. Em “Vem dançar" são apresentados alguns passos simples das danças típicas, experiência que pode ser complementada ao ouvir as músicas representativas ou, ainda, aprender as receitas das comidas tradicionais da seção de “Gastronomia”.
Em “Curiosidades”, Andrea conta sobre as cidades, os nomes, números, tudo o que ela encontra nas pesquisas como turista e entusiasta das festas. Destaque para as “Fotos”, que traduzem o olhar único da fotógrafa, e para os vídeos “Num Minuto”, narrados por ela. O “Glossário” traduz o vocabulário próprio e característico de cada festa e região como, por exemplo, o significado de “o capacete do Tuxaua” na festa do Boi Bumbá, em Parintins, ou a “charla”, “bagual” e “pilchado” da cultura gaúcha.
AS 37 FESTAS POPULARES JÁ REGISTRADAS
Norte: Boi Bumbá, Çairé, Carimbó, Krahôs - Festa da Batata e Lago dos Botos
Nordeste: Bumba meu Boi, Caboclinhos, Dança de São Gonçalo, Frevo no Carnaval de Olinda, Lavagem do Bonfim, Maracatu de Baque Solto, Noite dos Tambores Silenciosos, Romaria de Finados, Ternos de Reis e Toré dos Pankararus
Centro-Oeste: Cavalhadas, Fogaréu, Mascarados e Procissão dos Penitentes
Sudeste: Águas de Oxalá, Corpus Christi, Dia dos Povos Indígenas, Escolas de Samba, Festa da Abolição, Festa do Divino, Folia de Reis, Padroeira do Brasil, Parada LGBTQIA+, Procissão das Almas, Quaresma, Sakura Matsuri, Semana Santa, Tooro Nagashi e Xirê de Iemanjá
Sul: Oktoberfest, Semana Farroupilha e Tropeirada
Andrea Goldschmidt
Graduada e pós-graduada em Administração de Empresas (Fundação Getúlio Vargas/SP), Andrea Goldschmidt teve uma carreira focada primeiro em marketing e depois em gestão voltada para a sustentabilidade. Depois de mais de 20 anos atuando como executiva, resolveu dar uma guinada na vida e inscreveu-se em um curso de fotografia na Panamericana Escola de Arte e Design, a fim de estudar fotografia e se dedicar integralmente à arte, em especial, ao registro da cultura popular e da biodiversidade brasileira.
Seu projeto de conclusão de curso foi relacionado às festas populares brasileiras, tema ao qual vem se dedicando profissionalmente desde 2014. Participou de algumas exposições coletivas em São Paulo e, em 2016, fez sua primeira exposição individual. Desde então, a fotógrafa paulista percorre o Brasil para conhecer, pesquisar e registrar as festas populares, manifestações culturais e religiosas. Registrou até o momento 37 festas populares, em 13 estados diferentes (www.festasbrasileiras.com.br).
A fim de estimular a curiosidade do público sobre essas tradicionais temáticas do patrimônio imaterial nacional, Andrea utiliza também busca técnicas artísticas e várias mídias aliadas a tecnologias contemporâneas, como realidade virtual e aumentada. Em 2020, produziu a exposição virtual Caminhos do Divino (www.caminhosdodivino.com.br) que une fotografias e vídeos a estas novas linguagens para falar da tradicional Festa do Divino de São Luiz do Paraitinga (SP).
Escritora, autora da duologia "A Princesa e o Viking" disponível na Amazon. Advogada e designer de moda. Desde 2008 é blogueira. A longa trajetória já teve diversas fases, iniciando como Fritando Ovo e desde 2018 rebatizado como Leoa Ruiva, agora o blog atinge maturidade profissional, com conteúdo inovador e diferenciado. Bem vindos!
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