Últimas semanas do espetáculo Amadeo no Tucarena

maio 10, 2023

Segundo texto de Côme de Bellescize recebeu críticas entusiásticas e 

ganhou primeira montagem fora da França. Com direção de Nelson Baskerville, 

o elenco tem César Mello, Chris Couto, Cláudia Missura, Janaína Suaudeau, Thomas Huszar e, no papel-título, Thalles Cabral.



 

Público tem somente até o dia 28 de maio para conferir o espetáculo Amadeo em cartaz no Tucarena, em São Paulo. Sessões acontecem às sextas e sábados às 20h30 e domingos às 18h.

 

Amadeo, de Côme de Bellescize, estreou em 2012 no Théâtre de la Tempête, em Paris. Baseia-se num caso real, o do jovem Vincent Humbert, que ficou tetraplégico, além de cego e mudo depois de um acidente automobilístico. Movendo apenas o polegar direito, conseguiu escrever um livro com o jornalista Frédéric Veille - Eu peço o direito de morrer. A repercussão foi tão grande que se proibiu na França o excesso terapêutico, permitindo ao paciente o uso de cuidados paliativos e até o direito de parar alguns tratamentos.

 

“A pergunta central é mesmo até onde temos a liberdade de escolher e dirigir a própria vida”, considera o diretor Nelson Baskerville. “Cada um vai acompanhar e avaliar as escolhas dos personagens de seu ponto de vista, refletindo e não simplesmente reagindo”.

 

Foi a atriz e diretora franco-brasileira Janaína Suaudeau, formada no Conservatório Nacional de Paris, que se empenhou em trazer para o Brasil a peça de Bellescize, que ela assistiu na estreia parisiense. “De muitas maneiras fiquei impactada pela montagem – pelo lado pessoal, pela coragem e habilidade do autor ao tratar temas-tabu, pela reflexão em nível individual e coletivo que Amadeo provoca no espectador”, comenta. “Traduzi o texto com a colaboração de Clara Carvalho e minha personagem, Julia, representa a juventude, a descoberta da sexualidade em contraste com a desaceleração física de Amadeo – mas em circunstâncias muito frágeis; ela não dá conta do que houve com o namorado, e acaba se atropelando”. Para Janaína, o mais impressionante no trabalho de Bellescize é a “capacidade que sua dramaturgia tem de oferecer da sociedade uma visão caleidoscópica, panorâmica”.

 

Dois planos

Elaborado como uma “peça-sonho, à maneira de Strindberg”, com cenas curtas e cortes rápidos, como define o diretor Nelson Baskerville, Amadeo combina imagens oníricas e diálogos imaginários com a dura realidade, desenvolvendo-se em dois planos. Clóvis, o amigo imaginário – uma referência ao serviçal Clov do Fim de Jogo, de Beckett -, age de modo lúdico-violento para traduzir e sacudir conflitos, reflexões e sentimentos internos de Amadeo. “O teatro é o espaço desse véu, dessa intermediação com a realidade para que a possamos suportar, resistir e elaborar”, pondera Baskerville.

 

Também Ionesco, em sua peça Amedée, é evocado: ali, um casal discute o que fazer com um cadáver no quarto contíguo. “Bellescize claramente utiliza muitas inspirações; o personagem de Ionesco é um morto entre vivos, de certa forma a condição do Amadeo”. Mas Amadeo, sem perspectiva de melhora, consegue se comunicar precariamente com dois dedos e decide morrer. “Existe uma coisa viva dentro dele. A ligação com o bombeiro que o resgata é particularmente bonita – ele quer convencê-lo a viver. Quem está à volta de Amadeo é obrigado a repensar as razões para estar vivo, enfim”, prossegue o diretor. “E vejo a aceitação dessa mãe no centro de tudo, o ponto de gravidade da peça”.

 

“No jogo dos dois planos, um pouco como em Vestido de Noiva, de Nelson Rodrigues, há o plano real e o imaginário do rapaz, traduzido por Clóvis, que tenta fazer com que Amadeo sobreviva – ou mesmo viva -, de forma lúdica e às vezes violenta”. Também artista plástico, Baskerville aponta alguns nomes como referência nessa montagem: “Marcel Dzama e Gisèle Vienne, e também forte inspiração no pintor irlandês Francis Bacon, pelas distorções com que ele trata sua obra”.

 

O autor: Côme de Bellescize

Aos 43 anos, o autor e diretor francês Côme de Bellescize vem se destacando numa carreira premiada na dramaturgia e na direção de teatro e ópera. Formado como ator na Escola Claude Mathieu, criou a cia Théâtre du Fracas com o ator Vincent Joncquez. Com Les Errants (Os Errantes), ganhou o Prêmio Paris Jovens Talentos 2005 (Prix Paris Jeunes Talents); dirige em seguida As Crianças do sol (Les Enfants du soleil) de Maxime Gorki no Théâtre de l’Ouest Parisien e no Théâtre 13, em Paris, e Ah! Annabelle... de Catherine Anne no Théâtre Nanterre-Amandiers.

Escreveu e dirigiu Amédée, que estreou em 2012 no Théâtre de la Tempête, em Paris. Foi indicado como Melhor Autor no Prêmio

 

Beaumarchais do Figaro. Em agosto do mesmo ano, ele dirigiu sua primeira ópera, o oratório Joana d’Arc na fogueira, de Honneger/Paul Claudel no Festival de Seiji Ozawa, Saito Kinen Matsumoto (Japão), regida por Kazuki Yamada. Em 2013, remonta Amédée no Teatro 13/Seine e, em seguida, dirige Viardot, a liberdade no Festival de Aix en Provence, e em junho de 2014, La Scala di Setta de Rossini.

 

Em 2015, sua produção de Joana d’Arc na Fogueira, com Marion Cotillard no papel principal, na França (Nouvelle Philharmonie, com Kazuki Yamada e a Orquestra de Paris) e em Nova York, no Lincoln Center, com Alan Gilbert e a New York Philharmonic – o espetáculo foi considerado um dos dez melhores do ano. Ele dirige também Béatrice et Bénédict de Berlioz, sob a direção de Seiji Ozawa no Festival Saito-Kinen Matsumoto, em agosto 2015. Em novembro de 2015, ele dirige seu texto, Eugénie, no Théâtre du Rond-Point em Paris; em 2016, Soyez vous même com a companhia du Fracas e, em 2018, Fat, criação para - o Théâtre de l’Éphémère. Em 2020, ganha o prêmio de jovem autor da Academia Francesa e encena sua Le bonheur des uns, “uma comédia corrosiva”.

 

Ficha técnica:

Amadeo de Côme de Bellescize. Direção: Nelson Baskerville. Assistente de direção: Anna Zêpa. Tradução: Janaína Suaudeau. Colaboração: Clara Carvalho. Elenco: Thalles Cabral, César Mello, Chris Couto, Claudia Missura, Janaína Suaudeau e Thomas Huszar. Música original: Marcelo Pellegrini. Cenografia: Marisa Bentivegna. Iluminação: Wagner Freire. Figurinos: Marichilene Artisevskis. Visagismo: Marcos Padilha. Maquiagem para fotos: Ale Toledo. Direção de Imagem e Videomapping: André Grynwask / Pri Argoud. Produção executiva: Patrícia Galvão e Maurício Belfante. Designer gráfico: Cassia Buitoni. Identidade Visual:Ieda Romera e Geninho. Fotografia: Gal Opido. Textos: Luciana Medeiros. Assessoria de imprensa: Adriana Balsanelli. Idealização: Janaína Suaudeau. Realização: Ponto de Produção / Patricia Galvão.

 

Serviço: 

Espetáculo Amadeo no Tucarena

Rua Bartira, 347 - Perdizes, São Paulo/SP. 

Temporada: Até 28 de maio. Sextas e sábados às 20h30. Domingos às 18h. 

Duração: 1h30. 

Recomendação etária: 16 anos. 

Capacidade: 250 lugares.

Ingressos: R$ 120 (inteira) e R$ 50 (meia entrada para estudantes e idosos, portadores de necessidades especiais, professores da rede pública). Estudantes e professores da PUC: R$20

Pela internet: Sympla

(aceita todos os cartões de crédito)

Horários de funcionamento da bilheteria: De terça a sábado das 14h às 20h Domingos das 14h às 18h

Formas de pagamento: Amex, Aura, Diners, Dinheiro, Hipercard, Mastercard, Redeshop, Visa e Visa Electron.

Estacionamentos indicados: MultiPark: Rua Monte Alegre, 961 – R$25,00

MJS Serviços / Valet – Sextas, sábados e domingos, R$35,00


 

 
 
 

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