Tribunal Virtual: Consequências e Sequelas
junho 30, 2022Uma pessoa que passa pelo trauma do estupro, tem uma recuperação mais difícil e não pode ser generalizada.
Cada pessoa tem uma resposta de recuperação de acordo com seu ritmo. É um trauma chamado de psicoterápico que requer muita atenção, determinação, aplicação e resistência interna por parte da vítima.
Vale lembrar também que, a vítima jamais é a culpada e não condiz com o agressor em questão.
Toda mulher que passa por um trauma desse nível, sem dúvidas quer se recuperar — a vontade é completamente inerente ao seu aparelho psíquico. Mas, o estupro acarreta consequências inimagináveis e negativas, são consequências e resultados imprevisíveis para cada mulher.
O processo de recuperação é sem dúvidas essencialmente psicoterápico, em diversos casos conta com interação medicamentosa com ansiolíticos e/ou antidepressivos.
O tempo de tratamento e acompanhamento nesses casos, depende de como é o aparelho psíquico da vítima e como esse trauma será processado por ela. Há alguns casos em que o acompanhamento se estende por toda a vida, e há casos em que precisará acompanhamentos de manutenção e outros até mais moderados. No entanto, o tempo média de recuperação do trauma é de pelo menos uma década. No caso da Klara Castanho é um pico de recuperação um pouco pior, pelo fato de existir julgamentos externos e divulgação do caso em massa, agravando assim o caso.
A cicatriz da violência em que foi exposta ficará para sempre. Porém, um tratamento bem realizado, sem pressão nem atenção cronológica é fundamental. Mas, é preciso respeitar o tempo mental e psicológico de cada vítima.
Depois do episódio sofrido, a vítima potencializa a rejeição emocional, sentimental e fundamentalmente a interação íntima-sexual. Genitalmente falando, a mulher se sente “rasgada”, “ferida”, “machucada”, é uma dor que ela revivência todos os dias. Somente a vítima saberá dizer quando estará pronta para viver uma relação a 2, e a paciência do futuro companheiro terá que ser mito determinante.
Ninguém tem o direito de julgar uma vítima. Seja internet, jornalista, instituição religiosa/social. Somente a vítima tem o direito de decidir o que irá fazer, qual posição irá tomar diante da situação em que está enfrentando, a decisão cabe somente a ela.
Um estupro rasga a intimidade da mulher, rasgo os tratos emocionais, sentimentais, psicológicos e sexuais – causando transtorno de stress pós-traumático. Quanto então, em relação a uma criança que nem tinha ao menos entrado na adolescência. Absolutamente ninguém pode julgar uma vítima de estupro, nem tão quanto condenar um aborto.
Não podemos esquecer de que o componente genético é determinante. No caso de bebês que nascem dessa violência, carregam em si traumas internos da agressividade, misoginia do ato.
Querer para o outro suas próprias convicções não é o caminho. Cada um tem que viver a sua vida sem opinar de acordo com o mote pessoal do que acha certo e errado.
Porque as sequelas de não ter feito um aborto seriam estratosfericamente piores do que ter feito.
Ao tentar interferir na interrupção dessa gravidez a juíza em questão usou de seus próprios argumentos pessoais, achando o que seria certo – para ela juíza fazer – o que não é o procedimento adequado.
Não podemos esquecer de que a vítima não é mãe - é apenas uma criança – nem muito menos o agressor, perpetrador sexual não é pai.
Tentar não interromper uma gravidez nesse sentido (de violência sexual), é prolongar o trauma para sempre. Pois a criança não só teria a sua infância – apesar de que já teve – apagada, mas também iria lembrar do abuso todos os dias. Ao ver o filho que nasceu – quando deveria estar brincando – ela irá em seu inconsciente evocar as cenas de horror provocada pelo agressor.
Nenhuma mulher ou criança deve ter uma gravidez originada por estupro, concluída. O aborto nesses casos é mandatório e necessário sendo um ato real de humanidade.
Alexander Bez (Psicólogo) - Especialista em Relacionamentos pela Universidade de Miami (UM); Especialista em Ansiedade e Síndrome do Pânico pela Universidade da Califórnia (UCLA); Especialista em Saúde Mental. Atua na profissão há mais de 20 anos.
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